Pode crer que é assim

terça-feira, 17 de março de 2015

Tu me amas?


Arrepender-se é ser fraco? Talvez sim. Mas quem nesse mundo é realmente forte?

negação de Pedro
Depois de muito tempo volto a escrever no meu blog. Volto por causa da consciência não somente do que há de bom em escrever, mas também do que não há. Esta consciência é que me faz olhar o passado e, principalmente, o presente. Por isso a vontade de que este trabalho não termine, de que este trabalho seja a própria causa dessa consciência, a qual sem o apoio e a mesma vontade dos meus colegas colunistas não continuaria. E a consciência torna-se mais elevada ainda quando pensamos que há outros a nos ler ou nos ouvir de alguma forma. Seja para o bem ou para o mal.
O tema do arrependimento dentro das escolas de teologia e seus sistemas inteligentinhos é muito amplo e controverso. Mas, não vou cair nesta tentação de ficar rodeando sistematicamente sobre ele. Quero apenas fazer lembrar-nos de dois personagens bíblicos que caracterizam de forma quase universal as duas ideias. O primeiro é Judas. Todos, ou pelo menos a maioria, sabem da história e triste fim deste personagem. O modo como morreu é visto de muitas formas pelos leitores da bíblia e pesquisadores teológicos. O suicídio de Judas é matéria central para o diferenciarmos do segundo personagem: o apóstolo Pedro.
A dualidade de nossas reações é absorvida pelos instantes. É ali, no momento da dor, que somos confrontados pela consciência a nos requerer respostas. E são estas respostas que permearão nossas vidas para sempre e ditarão o modo de vida que queremos levar. Judas fez o contrário. Na ânsia de responder prontamente a qualquer pedido de Cristo, ele se viu sem respostas para ele mesmo, visto que apenas se perguntava: “fiz realmente o que tinha que ser feito?”.
A dor que dilacerava Judas não era por ter entregado Cristo, seu amigo, para ser crucificado; não era por comover-se com o inocente amigo que sempre lhe dava a mão nas horas de solidão e agonia. Judas estava amargamente frustrado por não conseguir responder às dúvidas que ele mesmo criara. E aqui é o ponto em que a consciência da culpa mina. Assim como dizia Descartes, “o remorso de consciência é uma espécie de tristeza que provém da dúvida que temos de não ser boa uma coisa que fizemos”. Judas tinha uma tristeza profunda por cair no lamaçal da dúvida e não conseguir reconhecer o erro. Infelizmente, ele não se silenciou.

Finalmente, a beleza do arrependimento fora encontrada em Pedro, que, ao contrário de Judas, não ouviu as vozes da dúvida (ou sequer havia dúvida, pois estava muito certo de que errara). Não entenda a dúvida aqui como despertar da ignorância, visto que esta dúvida é boa. Entenda como a dúvida no momento de corrigir o erro, no momento de reparar nossa vida e nossas reações a ela. Pedro é um exímio exemplo do arrependimento por ter negado a Cristo. O peso era o mesmo, porém a grandeza de Pedro em não ter ouvido o barulho da dúvida, mas sim o silêncio do perdão, foi que o fez ser chamado por Cristo a tentar responder a doce ou amarga pergunta: “Pedro, tu me amas?”. Talvez fosse esta mesma pergunta que Judas ouviria. E você? Como a responderia?

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